O ENFRAQUECIMENTO DA
AUTORIDADE DOS
PAIS
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eu, nem você, podemos negar as vertiginosas transformações do meio sociocultural
e da estrutura familiar. Dia a dia constatamos mudanças nas formas de
relacionamento humano. Enxergamos, a olho nu, a crise de autoridade que assola
o mundo e se estende para dentro da família. Ficamos perplexos, pois estamos
convictos de que a autoridade é imprescindível a todo sistema bem constituído.
Até mesmo Freud afirmava que os humanos necessitam imperiosamente de uma
autoridade na qual possam apoiar-se.
A
DESSACRALIZAÇÃO DA AUTORIDADE
É
interessante revisarmos um pouco da história e assim entendermos como a
autoridade foi perdendo terreno na sociedade e na família. Talvez possamos
compreender melhor que muito do que havia na família do passado era
autoritarismo, e que a luta contra ele em nada justifica a ausência de
autoridade nos dias de hoje.
Na
cultura tradicional vigorava a autoridade forte na relação do Estado com os
súditos e no ambiente da família. Esta autoridade provinha de valores,
costumes, normas. A perda de autoridade dos governantes, envolvidos com a
corrupção e incapazes de proteção e da manutenção da paz, modificou esta
situação, que sofreu um colapso. Diante da dessacralização da autoridade
política, a família entrou em crise...
Roudinesco,
em a “A família em desordem” (2003), analisa a família em três fases
evolutivas: a primeira, dita “tradicional", era regida pelo poder do pai,
como transposição direta do direito divino dos reis para o seio do privado, ou,
dito de outra forma, o pai recebia o poder do rei, que, por sua vez, o recebia
diretamente de Deus; a segunda, fase “moderna", é regida por uma lógica
romântica, onde o casal se escolhe sem a interferência de seus pais, procurando
uma satisfação amorosa, dividindo o poder e o direito sobre os filhos entre os
pais e o Estado e/ou entre pais e mães. Finalmente, a terceira fase,
"família contemporânea ou pós-moderna", onde a transmissão da
autoridade vai ficando cada vez mais complexa em função das rupturas e
recomposições que a família vai sofrendo.
A
família “tradicional", submetida ao poder paterno, manteve-se por séculos
e veio a abalar-se com a Revolução Francesa, que, ao propor um mundo laico,
atingiu a até então inatacável figura de Deus Pai e seus sucedâneos, os reis.
Estes são dessacralizados e destituídos, enfraquecendo consequentemente os
pais, que eram seu equivalente no seio dos lares. Esse modelo familiar
desmoronou definitivamente no final do Século XIX. E a autoridade restou
fragilizada.
RESGATANDO A
AUTORIDADE DOS PAIS
A
autoridade de um pai, ou de uma mãe, se fundamenta num conjunto de valores por
eles vividos, como por exemplo, falar a verdade, tratar o próximo com justiça,
evitar excesso de bebidas alcoólicas, controlar a agressividade, dialogar, dar
poder responsável aos filhos, não roubar, viver em paz com todos, ser
solidário, etc. São esses valores e princípios que dão legitimidade às relações
de mando e obediência. Sem eles os pais não têm “autoridade” para pedir a um
filho que cumpra suas ordens.
A
autoridade não é uma qualidade da pessoa, ela pertence ao reino da qualidade da
relação: mantém-se, perde-se e recupera-se pelo modo de comportar-se. Para
recuperar a autoridade, comece-se por melhorar, e muito, o comportamento e as
relações dos próprios pais.
A
autoridade é uma arma nas mãos de pais e educadores. Tanto o excesso
(autoritarismo) como sua insuficiência (lassidão) constituem traumatismos
afetivos cujos efeitos recaem sobre a personalidade da criança. São
prejudiciais o rigor exagerado, a disciplina pétrea, as regras descabidas, mas,
também o são a frouxidão, a folga, a ausência de limites e de firmeza em exigir
o cumprimento da regra saudável. Na verdade, a demissão do exercício da
paternidade está na raiz do problema. É preciso por o dedo na chaga e
identificar a relação que existe entre o medo de punir e os efeitos antissociais,
como a violência, por exemplo.
Uma
das primeiras coisas que o ser humano aprende é que não pode tudo: muitas vezes
na vida se sentirá frustrado e deprimido. É fundamental que desde criança viva
experiências de frustração e que aprenda a tolerá-las e a administrá-las.
Entretanto, reconheço que as experiências de êxito também são absolutamente
necessárias.
O
que os pais jamais poderão esquecer é que o afeto e a autoridade não são
antagônicos, pelo contrário, são as muletas sobre as quais se apoia a
personalidade vacilante do filho, da filha. Importa lembrar que o que respalda
a autoridade dos pais é o tipo de vida que levam: eles não podem pedir aos
filhos que façam o que eles mesmos não crêem e não cumprem.
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