PREGUIÇA
Prof. Felipe Aquino
Membro do Conselho Diretor da Fundação
João Paulo II
“O trabalho mais duro do mundo é não
fazer nada”
O
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trabalho não é uma penalidade, mas uma
colaboração. Após o pecado ter entrado na nossa história, Deus impôs ao homem
“a lei severa e redentora do trabalho”, como disse Paulo VI. “Comerás o teu pão
com o suor do teu rosto, até que voltes à terra de que foste tirado” (Gn 3,19).
A partir da tragédia do pecado original, o trabalho passou a ser um veículo
redentor para o homem, além de ser o meio pelo qual ele é chamado a ser
cooperador de Deus na obra da construção do mundo.
Michel
Quoist disse que “o trabalho não é uma punição, mas uma honra que Deus concede
aos homens. O Pai não quis acabar sozinho a criação, por isso convida Sua
criatura a colaborar com Ele”.
O
Senhor derrama Sua graça sobre aquele que trabalha com diligência. Este caminha
para a perfeição. Não foi sem razão que Confúcio disse certa vez: “Deus colocou
o trabalho como sentinela da virtude”.
O
trabalho traz para o homem uma misteriosa e agradável recompensa que ninguém e
nada pode tirar. O trabalho sério imprime, na própria matéria, o espírito, e
isto glorifica o Criador. Se com humildade oferecemos a Ele o nosso trabalho,
este adquire um valor eterno. Assim, o temporal se transforma em eterno; e esta
é a grande recompensa do trabalhador. Esta reflexão nos deixa entrever todo o
mal da preguiça. Nenhum bem valioso e nenhuma virtude autêntica podem ser
conquistadas sem o trabalho diligente e paciente.
Lamentavelmente,
criou-se também entre nós católicos a triste cultura de se “ganhar a vida na
sorte”, recorrendo-se às “senas” milionárias e às loterias alienantes. Esta não
é a vontade de Deus para o homem sobre a Terra. “Ganharás o teu pão com o suor
do teu rosto”, “quem não quiser trabalhar, que não coma”, esta é a lei santa,
severa e redentora do Senhor. Querer viver sem trabalho é como desejar a
própria maldição nesta vida. Nos momentos mais críticos da vida é o trabalho a
tábua da salvação para todos nós.
Facilmente
percebemos quantos males sociais advém do ócio e da preguiça. Para compreender
a sua gravidade ela é classificada como um “pecado capital”.
Temos
de entender a dignidade e a importância do trabalho humano no plano de Deus.
São Paulo disse aos tessalonicenses: “Procurai viver com serenidade,
trabalhando com vossas mãos, como vo-lo temos recomendado. É assim que vivereis
honrosamente em presença dos de fora e não sereis pesados a ninguém”. (1Ts
4,11-12)
É
tão importante o trabalho para o homem que o Talmud dos judeus diz: “Nenhum
trabalho, por mais humilde que seja, desonra o homem”. E ainda: “Não ensinar ao
filho a trabalhar é como ensinar-lhe a roubar”. E uma máxima rabínica dizia que
“o trabalho mais duro do mundo é não fazer nada”.
O
nosso grande João XXIII, de inesquecível memória, o gigante do Vaticano II,
disse certa vez: “O trabalho deve ser concebido e vivido como vocação e missão,
como tributo à civilização humana”.
A
maior parte da nossa vida transcorre no trabalho de cada dia; seja ele braçal
ou mental, doméstico ou empresarial, profissional ou particular. E o trabalho
foi colocado em nossa vida por Deus como um meio de santificação. Para nos
mostrar sua importância fundamental, Jesus trabalhou até os trinta anos naquela
carpintaria humilde e santa de Nazaré. E para nos mostrar que todo trabalho é
importante, Ele assumiu o trabalho mais humilde, o de carpinteiro, que era
desprezado no Seu tempo. São Bento de Núrcia tomou como lema da vida dos
mosteiros “Ora et Labora!” (Reza e Trabalha!).
O
nosso Catecismo ensina que: “O trabalho não é uma penalidade, mas a colaboração
do homem e da mulher com Deus no aperfeiçoamento da criação visível” (CIC,
§378). Falando da vida oculta de Jesus na família, quando de Sua visita à Terra
Santa, o Papa Paulo VI disse em Nazaré: “ (…) uma lição de trabalho. Nazaré, ó
casa do “Filho do Carpinteiro”, é aqui que gostaríamos de compreender e
celebrar a lei severa e redentora do trabalho humano (…)” (05/01/1964).
O
Fundador do “Opus Dei”, o Beato Monsenhor Escrivá de Balaguer, dizia: “enquanto
houver homens sobre a terra, por muito que se alterem as técnicas de produção,
haverá sempre um trabalho humano que os homens poderão oferecer a Deus, que
poderão santificar”. São Paulo disse aos coríntios: “Quer comais ou bebais ou
façais qualquer outra coisa, façais tudo para a glória de Deus” (1Cor 10,31).
Se até o simples comer e beber devem dar glória a Deus, quanto mais o trabalho!
Aos colossenses São Paulo explica mais claro ainda: “Tudo quanto fizerdes, por
palavra ou por obra, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a
Deus Pai” (Cl 3,17).
É
preciso notar bem esse “tudo quanto fizerdes”; nada fica de fora, nada é
profano na nossa vida. Tudo deve ser feito, sem preguiça e sem lamúria, “em
nome do Senhor”, isto é,“Nele” e “por Ele” para dar graças ao Pai.
Um
pouco adiante, o apóstolo insiste novamente: “Tudo o que fizerdes, fazei-o de
bom coração, como para o Senhor e não para os homens. Sabeis que recebereis
como recompensa a herança das mãos do Senhor. Servi ao Senhor Jesus Cristo” (Cl
3,23).
“Fazei-o
de bom coração”, quer dizer, fazer com amor e não por interesse; e “como para o
Senhor não para os homens.”
Aqui
está o ponto mais importante. Tudo o que fazemos deve ser feito “para o Senhor”
sem preguiça e sem reclamação para não perdermos o mérito da boa ação. Não
importa o que seja, se é grande ou pequeno, deve ser feito tendo o Senhor como
“Patrão”. Se você é lavadeira, então lave cada camisa ou cada calça com todo o
capricho, como se o próprio Jesus fosse vesti-las. Se você é professor, prepare
bem a sua aula, ministre-a com capricho e sem preguiça, como se Jesus fosse um
aluno que quer aprender. Se você é um médico, atenda cada paciente sem preguiça
e sem má vontade, como se o próprio Jesus fosse o doente.
“Sabeis
que recebereis como recompensa a herança das mãos do Senhor.”
*Prof. Felipe Aquino, é casado, 5
filhos, doutor em Física pela UNESP. É membro do Conselho Diretor da Fundação
João Paulo II. Participa de aprofundamentos no país e no exterior, escreveu
mais de 60 livros e apresenta dois programas semanais na TV Canção Nova:
"Escola da Fé" e "Pergunte e Responderemos".
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