Dom Luiz Demetrio Valentini |
Dom Luiz
Demétrio Valentini
Bispo de
Jales – São Paulo
O
|
carnaval comparece cedo neste ano. Ele depende
da data da páscoa. Como desta vez ela acontece ainda em março, é preciso ir
recuando o calendário, para que entre o carnaval e a páscoa caiba o tempo da
quaresma.
Assim
se comprova, de novo, que o carnaval nasceu como um evento secundário, colocado
em referência a outro, mais importante. No caso, o carnaval se desenhou no
contexto da expectativa da quaresma, que se constitui num tempo prolongado, bem
programado, com metas bem estabelecidas, e com uma cadência bem orquestrada, de
apelos positivos para a vivência de valores evangélicos.
Era
para começar bem a quaresma, que o carnaval servia de marco divisório,
apontando para a quaresma, com seu começo na quarta-feira de cinzas.
Mas,
o que continua tendo um valor secundário, assumiu uma importância muito grande.
A ponto de se tornar, para muita gente, o evento maior do ano.
Assim,
o que era acidental, passou a central. O que era simples aperitivo, tornou-se o
prato principal. E com frequência acontece, que se exagera no aperitivo, e se
perde o banquete!
Como
evento importante, é preciso reconhecer que ele foi agregando valores, e ao
mesmo tempo suscitando riscos.
É
inegável o valor cultural e simbólico que o carnaval assume, nas suas diversas
manifestações, sobretudo em algumas regiões diferenciadas do Brasil. Mérito
especialmente das escolas de samba, mas também de uma política equilibrada de
promoção do carnaval, especialmente em alguns Estados com mais tradição.
Mas
é inegável que muitas práticas carnavalescas descambam para a
irresponsabilidade moral, expondo as pessoas a graves riscos, não só de
envolvimento em atitudes de devassidão, mas em frequentes perigos de vida, como
consequência dos exageros, que se procura justificar invocando para o carnaval
uma permissividade ilusória, que abre caminho para atitudes equivocadas, com
sérias consequências de toda ordem.
Se
a este contexto somamos os abusos na bebida, a irresponsabilidade no trânsito,
o consumo de drogas, se completa o quadro de ambiguidades e de excessos, que
expõem as pessoas a sérios riscos, de que elas na hora não se dão conta,
tornando assim ainda mais perigosos os ambientes resultantes destas
ambiguidades do carnaval.
Quem
mais está exposto a estes exageros é a juventude. Por sua sede de experiências
fortes e de liberdade total, facilmente os jovens se tornam vítimas dos seus
próprios exageros.
Neste
ano, passado o carnaval, a juventude estará no centro de nossas atenções, pela
Campanha da Fraternidade. Foi muito oportuna esta opção da CNBB, de fazer da
juventude o tema central deste ano. E de novo, o confronto do carnaval com a
quaresma se torna símbolo da situação da juventude. Para o carnaval os jovens vão, sem precisar
de convite. Para refletir sobre suas vidas, no contexto da Campanha da
Fraternidade, temos que encontrar maneiras de nos aproximar dos jovens, e convidá-los
a participar.
Neste
ano, o carnaval acontece sob o impacto da tragédia de Santa Maria, e com a
disposição do policiamento de coibir rigorosamente os motoristas de dirigirem
alcoolizados.
Que
estes dois fatores sirvam de alerta a todos. Para que, passado o carnaval,
possamos viver com intensidade o tempo da quaresma. Que ela seja bem vinda!
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