DIVULGUE OS EVENTOS DO MFC DE SUA CIDADE – ENVIE UMA MENSAGEM PARA: mfcnoticias@gmail.com

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

EU OCUPEI WALL STREET


Vanessa Zettler

A estudante Vanessa Zettler, 23, é uma das líderes do movimento “OCUPE WALL STREET”, que promove marchas e acam­pamentos em Nova York. De São Paulo e fazendo faculdade nos EUA há um ano, ela diz se sentir parte de um momento histórico.

Depoimento a VERENA FORNETTI DE NOVA YORK

Recebi por e-mail o chama­do do Addbusters, um grupo com fundamentações anar­quistas, para ocupar Wall Street. Foi entre junho e ju­lho. Um pessoal se organizou para fazer a primeira assem­bléia. Eu cheguei na terceira.

O pessoal foi acolhedor. Eles nem tinham tanta expe­riência em organização polí­tica. Eu tinha alguma. Parti­cipei de manifestações polí­ticas antes de entrar ria PUC.

Cresci em Interlagos. Nos últimos anos, estava moran­do no Campo Belo, na zona sul. Meu pai trabalha no se­tor financeiro de uma empre­sa, e minha mãe é dona de ca­sa. Tenho dois irmãos. Sou a do meio e tenho 23 anos.

Sempre fiquei insatisfeita em ver gente passando neces­sidade na rua, gente se ma­tando de trabalhar, não ten­do oportunidade de estudar.

Comecei com 17 anos a me envolver, mas não tão inten­samente quanto agora. É a primeira vez que estou numa coisa tão grande e estou tão envolvida. Cada dia fico mais empolgada. A organização aqui é complexa. Na assem­bléia a gente gasta bastante tempo falando de organiza­ção. Tem comitê de comida, de conforto, de higiene.

O comitê de comida ofere­ce alimentação de graça pa­ra quem aparecer. Para qual­quer pessoa que chegar.

Temos moradores de rua também aqui com a gente e não temos problema. Eles nos ajudam, por exemplo, a lim­par o parque.

As pessoas que doam ali­mento e dinheiro são as que apoiam o movimento, mas não podem estar aqui fisica­mente. Já o comitê sanitário mantém a praça limpa. Te­mos todos os materiais para isso. E há o comitê de saúde, com médico para atender qualquer um que precisar.

A discussão política ficou e está ficando mais madura, com a diversidade das pesso­as aqui e das vozes que estão falando. A cada dia estão che­gando novas categorias. Imi­grantes, sindicatos... eles di­versificam a nossa discussão.

No começo, quem estava organizando era um grupo jo­vem, classe média e branco. Mas um grupo consciente que queria trazer todos os outros grupos e vozes para cá. E a gente está lutando por isso.

Ê uma agenda política bem ampla. Sobre a regulamenta­ção da economia, o fim do tra­tamento das empresas como se fossem pessoas...

O [filósofo] Slavoj Zizek já veio aqui, a [escritora] Naomi Klein também. Achei super-bacana a consciência de que isso está em diálogo não só com os EUA, mas com o mun­do todo. A discussão aqui não é só sobre o mercado finan­ceiro. Nem dá para dizer to­das as questões que estão sendo discutidas. Tem a ques­tão da imigração, para que as políticas imigratórias sejam mais flexíveis e tem a discus­são sobre a democracia, so­bre a idéia de liberdade.

O que é essa liberdade que esse país prega tanto, mas em que a gente vê tantas falhas?

Como na liberdade de ex­pressão, que é um dos maio­res orgulhos americanos, mas, quando a gente vai ten­tar exercer, pode ir presa.

Tem a discussão da demo­cracia representativa, que na verdade é uma democracia burguesa, que não promove mudança de verdade. E aqui a gente está fazendo demo­cracia direta.

O movimento mudou com­pletamente minha rotina. Agora isso aqui é minha ca­sa. Acordo, faço o que tenho que fazer, vou para a aula, fa­ço meus trabalhos, leio, estu­do, mas faço tudo isso aqui.

Só vou para minha casa pa­ra tomar um banho, descan­sar um pouco e voltar. A vida fica bem mais interessante quando você tem alguma coi­sa que é mais importante que a rotina. A rotina perde um pouco a sua importância quando sente que você está fazendo parte de um momen­to histórico.

Transcrito da Folha de São Paulo de 12.10.11




Nenhum comentário:

Postar um comentário