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quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

PAIS, NÃO SUBORNEM SEUS FILHOS - Artigo de Jorge La Rosa

"PAIS, NÃO SUBORNEM SEUS FILHOS"
JORGE LA ROSA – MFC/RS
 PROFESSOR UNIVERSITÁRIO, DOUTOR EM PSICOLOGIA
        
Jorge La Rosa
O título deste artigo poderia ser: “Pais, não tornem seus filhos mercenários”, ou, ainda: “Pais, não chantageiem os filhos”. Infelizmente algumas práticas educativas que os pais utilizam transmitem aos filhos a mensagem que o suborno é um recurso pedagógico válido. E se é válido para a pedagogia, é válido para a vida.
        
A dois irmãos que brigavam constantemente, a mãe não sabendo mais o que fazer, resolveu pagar pela paz. A cada dia que eles não brigassem, receberiam determinado acréscimo à sua mesada. Outro adolescente que não queria estudar e cujas notas eram baixíssimas, recebeu a seguinte proposta: a cada nota acima de 7  receberia 5 reais a mais na mesada. E àquela menina que estava na 5ª série, com sério risco de reprovação, os pais prometeram a almejada bicicleta caso fosse aprovada.
        
O que dizer dessa prática educativa? É legítima? Justifica-se?

SOCIEDADE, REMUNERAÇÃO E EDUCAÇÃO
É patente que nossa sociedade recompensa o trabalho com remuneração. O indivíduo que trabalha recebe salário; o vendedor ganha comissão por venda, e quanto mais vende, mais recebe; os serviços são, de modo geral, remunerados. A questão é: em educação podemos usar esse recurso? Indiscriminadamente? Constantemente?
        
As duas últimas perguntas são respondidas negativamente. Não se pode usar nem indiscriminada nem constantemente o recurso do "pagamento" por determinado comportamento. Estaríamos, em primeiro lugar, sucumbindo ao mundo do consumo, onde tudo se compra e tudo se vende. Em segundo lugar, mas muito mais importante, transmitiríamos aos filhos a ideia de que valores, atitudes e comportamentos são mercadorias que se podem comprar e vender, por preço maior ou menor, dependendo do objeto; admitindo, inclusive, a barganha: "Se eu passar de série - poderá responder a menina citada - não quero só a bicicleta, quero também uma mesada extra de duzentos reais. Afinal, uma aprovação vale mais que uma bicicleta!"
        
Os filhos, com essa prática aprenderiam também a ser mercenários. E chantagistas. Começariam a cobrar dos pais para comportar-se como eles desejam. Sem pagamento não haveria o seguimento de normas ou regras. Seria o caos!

GRATIFICAÇÕES E AFETO
Não podemos, por outro lado, deixar de gratificar e proporcionar alegria aos filhos, de acordo com o período evolutivo em que se encontram: crianças gostam de guloseimas (sem prejuízo de uma alimentação correta) e de brinquedos (não em excesso), adolescentes precisam do grupo de amigos, apreciam vestuário adequado, gostam de esporte e de festas, e almejam mesada (que não seja exagerada). Crianças e adolescentes necessitam, acima de tudo, carinho e convivência com os pais, e que estes lhes apontem o caminho a seguir. Os genitores, neste particular, não sejam nem avaros nem omissos.

COMPORTAMENTOS & RECOMPENSAS
Voltando à questão: podemos eventualmente recompensar determinado comportamento do filho? Podemos, com parcimônia, e que não seja a regra. Mas, atenção!, filho não deve lograr a aprovação escolar por pagamento, ele estaria sendo subornado e enganado. O estudo e a competência são valores que devem ser buscados por eles próprios: dignificam a pessoa, preparam-na para o exercício profissional, tornam-na socialmente útil, aumentam a autoestima e autoconfiança. Na medida em que os pais "compram" ou "pagam" a aprovação, estão despojando o filho de sua dignidade, estão diminuindo sua auto-estima e ensinando que ele é vendável, desde que lhe paguem o preço adequado. Ora, há certos comportamentos que não se vendem, há concessões que não podem ser feitas: quem se venderia para cometer um homicídio? Quem seria subornado para facilitar uma falcatrua? O indivíduo que aprendeu que seu comportamento tem um preço, e pode ser negociado. Pais, alerta! Não sejamos indutores ao mal e à imoralidade.

MOTIVAÇÃO E VALORES.
 As crianças e adolescentes, de modo geral, devem alcançar determinado objetivo porque ele representa um valor, uma conquista, traduz-se em realização pessoal, com consequências sociais e existenciais desejáveis – essas são as mais importantes recompensas, e é a partir deste tipo de motivação que devemos principalmente educar - podendo utilizar eventualmente a gratificação externa – para formar pessoas autônomas, governadas a partir da interioridade. Os filhos não devem ser comprados ou subornados. O preço é alto: a dignidade deles, a corrosão da personalidade, da autoestima e da moralidade. 

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